quinta-feira, 19 de julho de 2007

Na estrada
África do Sul
Quando li a biografia de J.R.R. Tolkien, e constatei que tinha nascido na África do Sul, não pude deixar de pensar se aqueles mundos fantásticos, por ele idealizados, habitados por “hobbits”, inexoráveis Saurons, personagens mitológicas e ninfas esvoaçantes, não teriam a sua origem nas reminiscências da sua infância passada aqui, nestas terras distantes. Quem sabe, se não foi surpreendido na sua meninice por um leão que se escondia por detrás de uma moita ou uma enorme jibóia que se enroscou na sua perna ou ainda por uma legião de suricatas que guardavam em posse defensiva o seu pequeno buraco no chão, tais “hobbits” baixos, de pés peludos e grandes, que se aventuravam na Terra Média ao lado do mago Gandalf e mais treze anões. Tenho uma estranha tendência, cada vez que faço viagens de carro, e não tenho a tarefa de conduzir o veículo, para deixar levitar a minha imaginação para mundos fantásticos, usufruindo desses momentos como um placebo, ou uma fuga, à trivial realidade do dia a dia. Olhando a paisagem em redor, tentei, com a modéstia do aprendiz, adivinhar se haveria alguma relação do que agora via com a inspiração de Tolkien e perceber, nos montes que nos circundavam, onde se poderiam esconder as sombras quixotescas que utilizavam léxicos e nomes élficos ancestrais. Mas não, estava tudo calmo e à nossa frente tinhamos apenas a estrada, infindavelmente em linha recta, com um bom pavimento, em rota directa ao nosso hotel. As distâncias aqui geram esta faculdade de nos permitir exercer divagações nos intrincados labirintos da nossa mente. Chegados ao destino, desci à terra e instalamo-nos no lindíssimo "Pestana Kruger Lodge", uma pequena amostra do que pode ser o Paraíso sobre a Terra.