quinta-feira, 12 de julho de 2007

ZAMBIA » ZIMBABWE
Chegada a outro planeta?
Depois de 11 horas de voo, no percurso Lisboa-Joanesburgo, não quisemos perder tempo e apanhamos o primeiro avião que conseguimos para o nosso destino final: As Cataratas Victoria no Zimbabwe. Como existem dois aeroportos que servem as Cataratas apanhamos, inocentemente, o primeiro avião, que nos deixaria na margem esquerda do Rio Zambeze, na Zâmbia, pois na nossa mentalidade europeia achamos que não ia constituir qualquer problema a travessia da fronteira, pois estávamos a falar de 20 Km até ao nosso hotel, no Zimbabwe. Santa ignorância! É o que dá viajar por conta própria, sem guias, planos de maior e com aquele espírito de aventura e de mochila às costas que me faz, em todas as minhas viagens, deixar para trás o protocolo e o preconceito da profissional aprumadinha que eu tanto procuro conservar todo o ano. Aqui, nestas libertações de espírito, transformo-me numa autêntica descobridora das savanas, preparada para os maiores desafios que nos possam aparecer. Só que, neste caso, havia um pequeno pormenor: é que eu nunca tinha estado em África e aqui as coisas são um bocadinho, reforço, "só um bocadinho" diferentes! A chegada à Zâmbia é, a modos que: CAÓTICA! Começa logo por não ser permitido ter na nossa posse dinheiro estrangeiro, logo aí tive que mentir, (coisa que detesto fazer, mas valia a pena arriscar e depois também não vi salas para revista pessoal, o que me encantou!), disse que só tinha VISA e uns dolarzitos, o estritamente indispensável para pagar um visto de entrada. Tudo bem até aí, não fosse o sono e a fome da minha comitiva. Segundo problema a resolver: arranjar um táxi! Qué dele? Tudo aquilo a que na linguagem europeia chamamos de "táxi", ali podíamos considerar que estávamos no Ferro Velho de Camarate em busca de uma peça para o mercado da candonga, para safar aquele automóvel que está na Opel e para o qual não se arranjam peças de 1958. Um horror! Era de fugir! O único problema que tive naquele momento foi, perante tanta escolha ao nosso dispor, qual seria aquele que aguentava andar 20 Km sem se desintegrar? Aproximou-se de nós um jovem aprumadinho e penteadinho com um ânimo determinado e voluntarioso em me tirar as malas da mão. Aí lembrei-me da minha regra nr 1 aeroportuária: NUNCA largar as nossas malas, dê para onde der, nem que isso signifique arrastarem-nos pelo chão agarrados à mala, é que com a quantidade de cremes e produtos que levo sempre daqui, onde é que eu em África ia comprar o "Skin Perfecting Creme" da Estée Lauder"? Um crime perder as minhas posses! Aprendi esta regra nr 1 no Aeroporto de Caracas quando uns polícias me tentaram roubar as malas...repito: polícias, sim! Enfim, lá entramos no pseudo-táxi do rapaz aprumadinho, cheio de trejeitos e vénias que me fizeram lembrar os filmes onde chamavam aos estrangeiros "buanas"! Rumamos à fronteira com o Zimbabwe. O carro ía aguentando no meio de chiadelas medonhas e, chegados à fronteira o rapaz aprumadinho disse calmamente: The End! Não percebi bem! Então e o Zimbabwe? Resposta: Não posso atravessar a fronteira com o meu carro! Bolas, só agora é que diz? E ali estavamos nós, no meio dos nativos locais, que faziam filas junto ao posto de fronteira às centenas, sem carro, telefones ou outro meio para percorrer os escassos quilómetros que separavam o purgatório do paraíso, pois era assim que as fotografias do "resort" agora me pareciam. Lembrei-me de sugerir...ALGO! Não tem um amigo taxista no Zimbabwe para nos vir buscar aqui? Pode telefonar? Yes buana, tenho sim, vou já telefonar! Prontamente, num dialecto local, combinaram ALGO! Não nego que pela conversa convenci-me que estava a decorrer já um plano que iria dar notícia televisiva em Portugal: Uma família de Portugueses foi assaltada, cortada às postas e frita no Zimbabwe...era o fim! Mantive a calma europeia, nada de stress, nada de pânicos, comportar-me profissionalmente como uma mãe desnaturada que arrasta os filhos para uma desgraçada viagem irresponsável, enfim, tudo de mau nos passa pela cabeça! Passado algum tempo chegou o amigo que nunca cheguei a perceber se era taxista. Quando vi o carro pensei: Oh MY GOD!! O carro era pior do que qualquer um dos que eu tinha visto no Aeroporto da Zâmbia. Recordo que o meu filho mais velho perguntou: Mãe, aquilo anda? Ao que eu respondi, responsavelmente: Não só anda como nos vai levar ao "resort". Tudo boas perspectivas para um início fulgurante da nossa estadia em África. Escusado será dizer que o carro, para além de completamente ferrugento tinha crateras que se assemelhavam à cratera de Barringer, no deserto do Arizona, o que nos proporcionava um espírito de transe espacial.
A placa mais esperada! -nestas alturas
os nossos desejos resumem-se a uma sobrevivência feliz!-
Depois de tratar das papeladas na fronteira, entramos cuidadosamente no carro de lata, não fosse ele desmanchar-se (havia outro remédio?), e entramos no Zimbabwe, atravessando a pequena cidade de fronteira - Victoria Falls. Estranho foi quando o jovem saiu da cidade e enveredou pela selva. Estranho mesmo! Lembro-me de pensar: Onde é que ali poderia haver "resorts"? Tínhamos vegetação alta de ambos os lados, casas ou cubatas nem vê-las, havia mato até perder de vista, estávamos simplesmente rodeados, aprisionados dentro daquela lata podre...silêncio, olhares de pânico. Escusado será dizer que se apoderou de mim um enorme sentimento de culpa, coitadinhos dos meus filhos e do maridinho que são arrastados para estas loucuras mas, eis que nisto,
Mercuri A'Zambezi River Lodge
surge miraculosamente à nossa frente um colorido "resort" nas margens do Zambeze. Que lindo, que vista, que paraíso tropical! Escusado será dizer que dei uma enorme gorjeta ao eventual raptor por nos deixar tão sãozinhos e em protecção nas garras de tão diligentes empregados a quem dei as minhas malinhas de mão beijada, com vénias e agradecimentos. À chegada ao quarto atiramo-nos para cima das camas e dormimos 10 horas, no mínimo, para esquecer! Thanks Buana!