sexta-feira, 20 de julho de 2007

Na estrada rumo ao
Blyde River Canyon
Africa do Sul
Saímos de madrugada rumo à N4, em direcção a "Laserie". Tinhamos pela frente muitos quilómetros. A estrada, acompanha a margem do "Crocodile River" até ao cruzamento de "Karino", chegados aí, virámos à direita para "Hazyview". Com os primeiros raios de sol, a paisagem começou a desenhar-se e a ganhar contornos. Surpreendeu-me o que via. Não sei porquê, tinha idealizado que todas as zonas circundantes do "Kruger" fossem cheias de vegetação, verdes, prolongamentos daquela pulsação de vida que eu tanto ansiava encontrar. Mas não, ao longo da estrada a desflorestação era total, dando um aspecto inóspito e muito árido a uma região que eu julgava arborizada e cuidada. Os habitantes locais têm o hábito de proceder ao abate de árvores, para daí obterem lenha. O resultado, uma vez que não é reposta a floresta, é uma paisagem muito estéril, seca, onde não vi qualquer animal ou ave. Impressionou-me. Acontece aqui o mesmo que em qualquer parte do mundo: circunscrevem-se os "habitats" naturais dos animais para darem espaço ao homem. É inevitável. A total ausência de árvores é aqui igualmente entendida como uma protecção, pois impede a fixação de qualquer animal selvagem nestas zonas. Dada a proximidade do "Kruger" - apenas alguns quilómetros -, disseram-nos que não era raro alguns animais ultrapassarem os limites do Parque e deambularem por aqui. O resultado é, quando têm sorte, serem reencaminhados para o Parque, mas há relatos de animais abatidos, nomeadamente leopardos. A legislação local protege os proprietários, no caso de disparo e morte de um animal, mesmo em vias de extinção, sempre que este constitua uma ameaça para a vida humana. O problema é que a prova circunstancial, nestes casos, torna-se quase impossível, pela ausência de testemunhas, nunca se chegando verdadeiramente a saber se teria sido evitável ou não.
Alguns proprietários, preocupados com o desaparecimento dos "habitats" naturais, transformaram as suas vastas herdades naquilo que aqui denominam como as "Game Reserves". As mais conhecidas, são a "Sabi Sand" , a "Timbavati" e a "Mala Mala". Promovem um turismo de habitação privado, personalizado e claro, de certa forma, caro e luxuoso. Todas estas reservas têm em comum o facto de serem adjacentes ao "Kruger", prolongando assim os limites do Parque, movimentando-se os animais sem fronteiras, entre ambos os territórios. Ao longo da estrada fomos encontrando queimadas extensas. São feitas aqui com grande insistência, sem qualquer organização ou supervisão popular. Algumas, chegam a atingir mais de 1 Km de extensão. O ar fica impregnado com um cheiro intenso a terra queimada, esvoaçando particulas de cinza que dão um aspecto enevoado à paisagem. Em vários pontos do trajecto, a pouca vegetação que havia nas bermas ainda fumegava ou estava mesmo a arder. O aspecto geral, é o de uma paisagem pobre, manchada de negro e triste. Ancestralmente, acredita-se aqui, que as queimadas promovem a regeneração dos solos o que, embora seja verdade, acaba por ser uma máxima frustrada quando cumprida à exaustão. As casas, muitas em forma de cubata, estão dispersas irregularmente pela paisagem, cercadas por pequenos terrenos agrícolas, uns abandonados, outros rudemente cultivados. Vemos, de quando em quando, grandes propriedades, devidamente cuidadas, sendo comum a todas a plantação de bananeiras ou a cana de açúcar, esta utilizada como matéria prima pelo maior empreendimento industrial da zona, onde é, posteriormente, transformada em combustível: o famoso álcool de cana.
Fotogr: CRV

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