quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brasil - A Cidade do Natal

Voltar. Regressar à imensidão das praias, ao mar azul, ao sossego das dunas, às lagoas de águas mornas, aos coqueiros, à lentidão do dia, às caminhadas, ao descanso merecido, ao reencontro de nós próprios, à paz. Regressar ao Brasil é tudo isto mais o Nordeste no coração. É concretizar o sonho da última partida. Regressar uma e outra vez. Prendem-nos o carinho das gentes, sorrisos sinceros, tratos afáveis, o “meu Amô”, forrós sensuais com abraços fortes e ancas anguladas que se bamboleiam ao som da música frenética. Pés descalços, areia, raízes de África, rodopio que nos cega. Suco batido de manga, abacaxi ou maracujá, caipirinhas à sombra do coqueiro. Música na praia, sesta na rede, livro caído para o lado, fritada de peixe no barroco do Sô João. Sono em lençóis brancos. Imaculados. Grilos e cigarras à porta. Cantoria desenfreada. Lá longe. Mesmo antes de adormecer. Mas Brasil é também recordar a nossa História. Fundem-se gerações, criam-se impressões digitais, línguas irmãs, nomes que nos sugerem idas e vindas de antepassados, de cá para lá e de lá para cá. Revisitar esta História é redescobrir a nossa História. Barcos que cruzaram o oceano, travessias com adamastores, polvos gigantes, índios e corsários, ouro, açúcar, escravos, plantas e animais exóticos. Rever a história da cidade do Natal transporta-nos no tempo até ao ano de 1600. Conquistado o território aos índios Potiguares, fixaram-se aqui os primeiros colonos portugueses convolando as hostilidades declaradas numa convivência pacífica. Em 6 meses, edifica-se uma tosca fortaleza, na foz do Rio Potengui. Negoceia-se mão de obra. Trocam-se objectos utilitários. Extrai-se o pau-brasil. Nasce um posto comercial rudimentar. Depois outros. Sarapintados ao longo da costa. Em redor do pequeno forte nasce um povoado. Um aglomerado de casas ao qual mais tarde viria a ser atribuído o nome do dia da sua inauguração: Natal. Até aos nossos dias, o pequeno povoado passaria pela mão de corsários franceses, ingleses e holandeses. Por fim, a conquista e a devolução aos portugueses. No domínio holandês, o pequeno forte é transformado em fortaleza. Incólume, à passagem do tempo e às querelas em seu redor, o “Forte dos Três Reis Magos”, um dos símbolos históricos da cidade, permanece hoje, como um vulto imponente, com as suas cinco quinas, memória do nosso passado, na foz do Rio Pontengui no turbilhão onde confluem as águas calmas do rio e as revoltosas do mar. Mistura de raças. Índios, africanos e europeus estabeleceram-se aqui atraídos pelo ouro, as madeiras exóticas e o açúcar. Outros, fixam-se aqui forçados pelo famoso Triângulo do Atlântico. Surgem as capitanias, as fazendas e o apogeu de Portugal como o maior exportador de cana-do-açucar do mundo. Localizada numa posição geograficamente privilegiada a pequena povoação do Natal evoluiu, nos séculos seguintes, na sua densidade geográfica, importância estratégica, militar e cultural. Com o advento da Segunda Guerra Mundial foi base militar aliada, capital do programa Espacial da América do Sul, Cidade Presépio, atracção turística, cidade das Dunas, capital do Rio Grande do Norte. Regressar ao Natal é reconciliarmo-nos com a beleza das paisagens naturais, a gastronomia nordestina, o calor do sol, a imensidão das praias, o sossego reconciliador e uma paz sem fim há muito desejada. São todas as boas recordações desta viagem que vamos aqui relembrar.

5 comentários:

João Videira Santos disse...

Natal? Conheço. Conheço e bem!

Que tal deslizar pelo Morro do Careca até ao mar?

Só experimentando se pode viver essa emoção "louca".

HELENA AFONSO disse...

CRISTINA, como sempre o seu relato da terra abençoada de Deus e conquistada pelos nossos antepassados, baptizada de NATAL, é fiel à sua beleza, seja da paisagem única, mas também da cultura dos índios e dos actuais.......É indiscutivel a beleza natural das praias do Rio Grande do Norte, são selvagens, ainda, mas já têm as ideais estruturas para agradar aos mais exigentes. Eu conheço bem o Brasil, mas fiquei fascinada com a viagem a Natal, senti-me voltar aos meus dias de criança, delirei com as corridas de buggy, nas dunas, senti a adrenalina crescer nos "vôos" de balão, desci de corda, do alto duma torre para o mar, mergulhei nas ondas altissimas da praia de ponta negra e só não desci o morro do careca, como diz o João, porque estava sózinha e precisa de alguem que me "desse a mão".....O Brasil é realmente um país fascinante, pela natureza e pela cultura dum povo ainda genuíno, de alegria transburdante e contagiante,adoro lá ir!
Beijinhos, HELENA

Paralelo Longe disse...

João,
Obrigada por passar por aqui e contar com os seus comentários. É óptimo ter por perto alguém com quem temos afinidades :)

Helena,
O que refere sobre o Rio Grande do Norte é tão verdade que fiquei com vontade de dar um salto até lá numa das próximas semanas. O Brasil deixa-nos imensas saudades, logo na hora da partida. Também nós fizemos todas essas loucuras que dão voz ao espírito jovem que temos e que nos fazem sentir muitíssimo bem. Tenho saudades da beleza selvagem do Rio Grande do Norte, das gentes simples e sorridentes, do carinho que nos fazem sentir tão bem acolhidos naquela terra. Estou desejosa de voltar. Um bj Helena e é um prazer contar com os amigos por aqui.

Paralelo Longe disse...

Obrigada Rosa por passar por aqui. Um abraço.

Olga disse...

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