terça-feira, 14 de setembro de 2010

Brasil - "Villa do Sol"


Com a ajuda do João, retiramos as malas do carro e dirigimo-nos para a pousada. Constituída por duas frágeis meias portas envidraçadas a entrada tem um modesto puxador, que é accionado por um rudimentar dispositivo eléctrico. Ao toque da campainha e de um «Oi, somos nós», as portas abrem-se em sintonia e tranquilamente instalam-nos na “Villa do Sol”. Os rituais sucedem-se. Para manter a porta aberta socorremo-nos de um velho calço de madeira, desgastado, que se encontra estrategicamente colocado, atrás da porta. Do rio atravessa o ar uma  lufada de ar fresco, que nos refresca do calor do meio dia. A pousada tem uma disposição simples. Construída em leque, a sua arquitectura modesta substitui, de bom grado, os devaneios estilísticos dos novos resorts e hotéis de luxo. Aqui, tudo é personalizado. Até o pôr-do-sol. O passeio marítimo, com cerca de 30 metros, faz as delícias do observador de horizontes, naqueles fins de tarde em que o leito do rio se encontra com o mar e o sol abrasador desce voluptuosamente à nossa frente. É a altura de desfrutar do som das palmeiras, de uma caipirinha generosa e de um bom livro que faça as delícias antes do jantar. E a música. O Lon sabe pôr aquela música de jazz que gera aquela terminologia química ou física, sei lá, que nos torna sonolentos e com vontade de embalar. Já noite, recolhemos aos quartos. Com ventoinhas de tecto e mobiliário modesto fazemos projectos tranquilos para o dia seguinte. Este, é um daqueles lugares em que nos sentimos em paz com o mundo. É uma coordenada geográfica onde o sono vem por aconchego com o canto das cigarras. Onde o dia nasce, bem mais cedo do que é costume, por entre a timidez de uma janela romba. Talvez seja um daqueles lugares onde sentimos que batemos à porta do Céu constituindo aquele pequeníssimo raio de sol, uma ínfima excepção com a qual Deus nos presenteou. E, sem querer cair em misticismos escusados, não conseguimos deixar de, intimamente, agradecer alguns destes pequenos mistérios.
Fotogr: CRV

Sem comentários: