domingo, 16 de junho de 2013

Brasil - Tibau do Sul - A Baía dos Golfinhos

CRV©Baía dos Golfinhos
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Os finais de Julho coincidem com as últimas semanas da estação baixa, quando as chuvas caiem quentes e abundantes, pelas noites tropicais dentro, dando apenas tréguas ao despontar dos primeiros raios de sol. 
Os planos levam-nos aos 10 km de estrada que ligam Tibau do Sul a Pipa e que percorrem o topo da falésia que se eleva sobre as pequenas enseadas e o mar. A estrada, estreita e esburacada, tem do outro lado o Parque Natural das Dunas, uma barreira de silêncio formada por pirâmides de areia branca, lisas e frágeis, como castelos de cartas, que frequentemente se elevam e rodopiam, por acção do vento da tarde, vindo morrer junto à estrada. 
Contra o céu azul, alguns abutres, de um negro pesado e obscuro, sempre presentes no cenário das paisagens do nordeste. Planam, suspensos por uma única motivação, durante horas, desenhando círculos sobre as dunas, na esperança de saciarem a fome, com alguma carcaça insólita, grotesca, que desencantem, esquecida nalguma sombra remota.
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A meio do trajecto, um habitante local sugeriu a Baía dos Golfinhos "Mas vá devagar, pois não está assinalada". Não fosse o menino de calções e caracóis russos, agitando pequenos sacos de amendoins na berma, o acesso às escadas que descem para a Baía, passaria despercebido, simulado na densa vegetação. 

"É aqui o local da Baía?" a pergunta deu lugar à compra de um saquinho de amendoins e a um dedo indicador que apontou para o meio da mata. "Ali!". O acesso, esculpido pelo meio das árvores, estava tapetado com casca de árvores secas. A descida leva-nos a uma pequena unidade hoteleira que explora o resort da escarpa. A servir-lhe, uma escada privada de madeira, demasiado íngreme, tornada pública, que descia, quase na vertical, morro a baixo, por entre a vegetação, e que sugeria cautela de modo a não colocar pés em falso, potenciando a queda na descida. Pelo caminho, os habitantes da mata. 
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Pequenos saguins despudorados que invejam os amendoins e os gelados de quem passa, pedindo com a mão a esmola dos que nada têm, mas tudo conseguem, pela graça, pela pequenez dos gestos e pelos olhos assustados cheios de infundados receios. 
Em baixo, a praia surge intermitente, por entre a ramagem. Provavelmente por tradição, todos param na descida e se sentam na subida, num palanque alargado, improvisado a meio das escadas. Aproveito o descanso, para as primeiras fotografias da Baía e dos saguins que se aproximam, para os silêncios de espírito e as primeiras notas do dia. 
Hoje, denominada pelos turistas como Baía dos Golfinhos, a praia do Curral adquiriu o seu verdadeiro nome da prática da captura de peixe através da instalação de "currais feitos de varas", que mais não são do que armadilhas onde se introduz um isco de modo a surpreender o peixe. Uma vez abocanhado o isco, o ladrão passa a presa, surpreendido nos anzóis agarrados à ingestão do  petisco indevido.
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Finalizada a descida, percebemos a razão porque esta é uma das praias mais famosas da região. O acesso difícil desmobiliza a invasão das massas promovendo, no extenso areal, inúmeros recantos apetecivelmente desertos. Ideal, para quem gosta da tranquilidade do vai e vem das ondas, a Baía é um imenso anfiteatro emoldurado pela falésia coberta de um verde intenso forrado pelo arvoredo da mata. Protegida do vento, dizem que as ondas do mar têm aqui queda para a prática do surf, acolhendo uma escola de pequenos iniciados que se deliciam com a companhia de um grupo de ruazes que faz questão de correr com eles na crista das ondas. Geometrias felizes, feitas de pequenos nadas, rastilhos de memória que respiram e tingem de cor os regressos através de uma escrita projectada.
CRV© Baía dos Golfinhos
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