segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A caminho de Moçambique

Saímos de madrugada rumo a Neilspruit, a capital de Mpumalanga. Deixamos para trás o Kruger, o Parque Natural mais bonito onde alguma vez estive. Nos 60 Km que nos separavam da cidade fui observando a paisagem e retomando uma percepção que havia perdido: fora do perímetro do Parque o ambiente volta novamente a ser hostil. Afinal, não nos podemos esquecer que estamos na Africa do Sul, um dos países com maior índice de criminalidade do mundo. Antes de iniciarmos a viagem, recomendaram-nos que estivessemos atentos. Neilspruit - à imagem de tantas outras cidades sul africanas - é uma cidade complexa onde são comuns os furtos, alguns com elevada perigosidade para a integridade física. A chegada à cidade confronta-nos com um cenário a que não estamos habituados. Embora tenhamos passado por bairros com aspecto impecável e muito civilizado, outros há que são primários no aspecto, nas gentes e no trato. Vê-se que são bairros suburbanos, com défices graves de educação e com notório desenquadramento civilizacional. É um problema que ocorre em muitas cidades da África do Sul. Nesses bairros, as lojas são revestidas por grades e a sensação de insegurança torna desconfortável a permanência no local. Uma vez que não é possível transitar a fronteira, com os carros das companhias de aluguer de automóveis, fomos forçados a apanhar um dos autocarros que parte diariamente de Neilspruit para Maputo. Não posso deixar de recordar como foi estranho estarmos a aguardar pela hora da partida do autocarro, numa sala de espera forrada com grades, onde, para se entrar ou saír, tinha que ser accionado um mecanismo eléctrico por um segurança que ali se encontrava. Todo o ambiente era hostil tendo-nos sido recomendada cautela com as bagagens, na curta distância, de 20m, que mediava entre a sala de espera e o autocarro. Por isso, a expectativa era grande. Queriamos saír dali o mais rápido possível. Para complicar tudo, o autocarro - que vinha de Joanesburgo - ficou retido, mais de 5 horas, devido a um tiroteio que envolveu um assalto a uma carrinha de valores, com mortos e feridos contabilizados. Quando finalmente podemos partir, é inegável a sensação de alívio que sentimos quando deixamos para trás locais onde se torna um sacrificio permanecer. Ao saír, não pude deixar de pensar onde é que estaria a verdadeira selva, se lá na savana, ou aqui, neste mato.Fotogr: CRV

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