segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Brasil - João Pessoa (3)

O lago é imenso. Contornado por palmeiras imperiais, o grande espelho de água é conhecido como o marco geodésico à volta do qual circula a cidade de João Pessoa. Localizado perto da zona histórica da cidade, é do Parque Sólon de Lucena que partimos rumo aos museus, ao mercado de artesanato, às igrejas, aos monumentos e à casa do artista. O mercado de artesanato é um edifício de dois pisos, com mais de uma centena de pequenas lojas, voltadas para um pátio central, onde se dá uma amostra do artesanato produzido no Estado do Paraíba. Cada loja, sobrevive num espaço exíguo, atafulhado com uma multiplicidade de objectos que vão desde a cultura barrista, dos índios do litoral, com influências europeias e africanas, aos objectos produzidos pelas tribos indígenas do Maranhão interior, essencialmente feitos de palha, madeiras exóticas e penas de pássaros. Inspeccionei as lojas, ao longo dos corredores de dois andares, com um interesse meramente lúdico e com um desinteresse crescente pela miscelânea de produtos introduzidos pela fobia do turismo de massas. Ao objectivo inicial, que certamente seria o de projectar as pequenas comunidades artesanais, sucedeu-se uma tropelia comercial que descaracterizou o local, ofuscando os produtos cujas artes deveriam constituír a verdadeira representatividade do espaço. Saio com uma noção de violação deste espaço pela cultura do lucro e da venda fácil e rumo em direcção ao complexo arquitectónico de Oscar Niemeyer. Uma moderna estação, localizada no Parque Natural do Cabo Branco, com planetário, salas de conferências e anfiteatros, projectada para difundir as actividades culturais, científicas e artisticas da região. Mas, seria o entardecer que faria de João Pessoa um momento inesquecível. Na Praia Fluvial do Jacaré, nas margens do rio Paraíba, dizem que o pôr-do-sol é um dos mais belos do planeta. A acreditar na previsão, deslocamo-nos para lá. Ao longo do rio, sucedem-se pequenos restaurantes de gastronomia local, construídos sobre estacas de madeira, dando ao local um aspecto de aldeia sobre as águas. Perto do entardecer, começa a agitação. Para aqui convergem a maioria dos turistas de visita à cidade. Apressam-se a ocupar uma mesa, a procurar a posição do sol e a medir o tempo que falta até ao entardecer. Sentamo-nos. Confortavelmente instalados num pequeno bar, somos embalados pelo vai e vem tranquilo das ondas do rio, que correm por baixo do soalho de madeira robusta, fazendo pensar numa pousada sobre o mar. É como se a água fresca, o som das vozes e os risos que nos cercam, alongassem o vasto horizonte para lá da linha onde o pensamento se perde sobre o mar. Sobem ao palco os dois artistas. Ensaiam-se os primeiros acordes. Todos esperam pelos últimos 17 minutos do entardecer, altura em que o sol timidamente  começa a sua queda e o saxofonista e a violinista iniciam o Bolero de Ravel. Tal como tudo na vida, só quando o sol definitivamente se esconde, é que os artistas param de tocar. Até lá, haverá sempre um novo amanhã, para disfrutar.

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