sábado, 28 de abril de 2012

Brasil - Campina Grande


O fascínio pelo interior do Estado empurrou-nos mais para dentro. Aceitamos o desafio das grandes planícies, voltando as costas ao mar e ao melancólico pôr-do-sol da Praia do Jacaré. Ceder ao interior arranca-nos da ressaca dos hábitos ociosos e faz-nos correr ao encontro das cidades que se encontram na encruzilhada entre o presente e o passado, entre a escravatura e a liberdade, o litoral e o sertão, entre o mar e o crespar das planícies em direcção à serra sertaneja.
Fomos ao encontro de Campina Grande. Da história da cidade sabia apenas que tinha surgido em território dos índios Ariaús. Com a corrida ao ouro branco, viveu tempos gloriosos tornando a região no segundo maior exportador de algodão do mundo. A cidade foi o pólo dinamizador do comércio de algodão do sertão. Para aqui convergiam as safras das regiões vizinhas seguindo depois para o litoral, percorrendo os 150Km que separavam Campina Grande do mundo exterior. O algodão gerou fazendeiros milionários, aumentou o prestígio da cidade e instalou políticos convenientes ao desenvolvimento local. No mundo interior das plantações, vivia-se o turbilhão claustrófobico da escravatura. Gente anónima, com fissuras amargas nas mãos, sobrevivia resignada a uma patologia insidiosa com sonhos presos a ramos de algodão.
No início do século 20, a chegada do comboio abriu as portas do mundo a esta cidade atarracada entre o calor do sertão e a exportação mundial. O governo político instalou-se e o prestígio da cidade passou a superar a capital do Estado, João Pessoa.
Percorremos a cidade de fugida. O clima quente afastou-nos dos passeios a pé. Optamos pela tediosa circunvalação de carro com uma pequena exploração do centro histórico.
Com características colonialistas os edifícios centenários do centro levam-nos por dentro da história da cidade. O Teatro, de princípio de século e o Museu Histórico e Geográfico, reflectem um apogeu extinto hoje contornado pelas industrias de software que cresceram nos limítrofes da cidade e que destoam do ambiente histórico-colonialista do centro. As casas acolhem-nos com cores quentes e desenhos geométricos, simétricos, referências daqueles dias em que se vivia uma azáfama branca diferente do ócio lento que hoje habita no centro. Por toda a cidade a veneração ao São João padroeiro é uma constante. Dizem que se celebra aqui o maior S. João do mundo. Em Campina Grande não é o Carnaval que merece destaque mas sim as festas Joaninas, com reserva do mês de Junho para as apoteóticas celebrações. O Parque do Povo, com 45.000 m2, está reservado para os desfiles locais e para o forró "pé de serra" que marca o compasso da dança frenética que aquece os corpos em transe dos foliões. O povo é acolhedor e os espaços verdes fazem desta cidade um oásis de tranquilidade para os viajantes que rumam ao interior do Estado. Com o dia a terminar decidimos regressar ao vai-vem das ondas, no nosso refúgio em Carapibús. Ficámos a desejar uma viagem pelo interior do Estado que conta com parques naturais e relíquias históricas e pré-históricas, como o Vale dos Dinossauros, no município de Sousa, onde foi descoberta uma das maiores concentrações de pegadas de dinossauros do mundo.

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