quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Brasil - Tibau do Sul - Ao entardecer...

Lagoa de Guaraíras CRV©
Os entardeceres, em Tibau do Sul, são suspensos entre a inclinação do sol poente, quando toca rente às dunas da outra margem, e a tranquilidade do palanque de madeira que sustem uma bebida fresca, para matar a sede, ao final da tarde.

Nesta margem, o pôr do sol faz-se no meio de um número generoso de adeptos, que se vão acomodando ao desconforto do terreno, balançando pela encosta acima, motivados pela promessa de um entardecer, cercado por este pequeno mundo onde nos enredamos, entre campo e praia, próprio dos labirintos tranquilos, com portas entreabertas para um verão que se faz poeta e se deixa render.

No bar, a azáfama, limitada aos 30 minutos diários, corta a pacatez da planície coberta pelas águas e as falésias arborizadas que sustêm o areal descontrolado, pelo vento que o embaraça, entre as brisas e as rajadas da tarde.

Pelo meio, crepes doces e salgados, bebidas geladas que amordaçam ligeiramente a voz solitária. Queimam-se os minutos em excesso, relaxam-se as emoções, faltam-nos as palavras, escrevem-se sensações. Por uma fresta da paisagem, o sol vai descendo nesse suicídio místico que constitui uma imensa subversão das regras, pois renasce viçoso, logo pela manhã, contrariando a fórmula duvidosa que jurava que já não haveria mais refracções da luz poisada nos nossos olhos tingidos de esperança.

Entre a queda e a penumbra escrevem-se duas ideias, três poemas. Registos, que são crateras no pensamento, ansiedade, admiração, solfejo de uma ária que nos bafejou, timidamente, com as mãos côncavas do vento, a revolver todas as preces suspensas das palavras, na nostalgia do sol poente.
CRV©

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