sábado, 7 de janeiro de 2012

Brasil - A pedra do Ingá


Ao longe, já se avistava o planalto do Borborema. Na estrada que liga João Pessoa a Campina Grande, surge, ao km 115, o desvio para a cidade do Ingá. Percorremos os 8 km que nos separam da pequena localidade, ladeados por campos de searas, sob um sol abrasador, que engolia a paisagem seca do interior.
A cidade, mantém a placidez das ilhas perdidas. Entalada entre os dias, que correm quentes e lentos, rejeitam-se aqui os deslumbramentos da modernidade. A arquitectura do centro, evoca uma história novecentista que convive tranquilamente com a modernidade obstinada da era informática e as definições áridas das cidades do interior. Atravessamos a localidade, até ao outro extremo. Seguimos por uma pequena estrada secundária, em direcção ao local da Pedra Lavrada, onde um complexo arqueológico, foi classificado como Património da Humanidade. Um pequeno edifício branco, térreo, cercado por um muro de cimento, delimita o perímetro da Pedra do Ingá. Lá dentro, uma modesta recepção e um pequeno bar acolhem o visitante. Somos levados para a parte de trás do edifício. Dali, seguimos por um pequeno caminho, onde conseguimos aceder ao leito do rio. A época seca reduziu o caudal, a dois ou três trechos de água, deixando a descoberto um conjunto de pedras, que ocupa uma área de 250m2, sobre um lajedo soerguido ao longo das margens e do fundo do rio. No meio do curso de água encontra-se o maior painel de baixos relevos. Gravado numa rocha com 24m de comprimento e 2,5m de altura as inscrições contemplam uma profusão de sinais, com características místicas, abordando temas como a fertilidade, as estrelas e a água. Os símbolos utilizados, envolvem formas simétricas elaboradas, e variam entre pontos capsulares agrupados, rectângulos gradeados, círculos pendulares, cortados, cheios e concêntricos. À direita, um calendário lunar e diversas formas âmbiguas permanecem, segundo leio, por decifrar. Acredita-se que as inscrições se situem num período, entre os 6.000 e os 25.000 anos porém, a falta dos artefactos utilizados na gravação dificulta uma determinação mais aproximada. A dureza das rochas, deixa adivinhar uma comunidade pré-histórica dotada de técnica e destreza manual avançada, capaz de produzir inscrições profundas com acabamentos consistentemente polidos. Gravadas, na maior lage do fundo do rio, uma explosão de estrelas ilumina o local. Identificada com a constelação de Orion, as gravações na pedra deixam antever, numa simbologia alegórica, um culto que procura, no silêncio das águas, a reconciliação metafísica entre os enigmas da existência individual e a transcendência de recurso, proporcionada pelo espaço sideral.
fotog:CRV©

3 comentários:

Olga disse...

oh, Ti, this is so wonderful you are back posting at 'Viagens'. Brazil is a truly wonderful country it seems from your posts. I very much hope one day we will be able to go there - maybe even together - that would be a great experience! Take care and thank you for you kind msg on FB. Have a good Sunday! I think about you a lot. Hope you are feeling better now.

Paralelo Longe disse...

Hi Olga,

Thanks for passing by. I really missed posting on Viagens but I guess I didn’t started well, once I decided to re-write the all post...it didn't sound well :) too artificial, I guess. One of the advantages of writing is that we can change (and preferably improve) what we meant. One of things impossible to do on the course of History. There we can never go back or change anything. So, this is a positive look into writing. Always practicing, in order to express in a clearer way :) Regarding Brazil we could really go together, next time. That is a very exciting idea. I love to be with you both and I’m sure we’d have a lovely time together. I’ve also been thinking a lot about you. Everyday. I guess that’s what’s called a good and healthy friendship.
Have a nice Sunday. TI

Olga disse...

Indeed, this is a very good thing about writing - before the book is published I suppose :) After that the book becomes 'history' and is unchangeable. It always happens to me too - when I come back to my older posts I think they are not good and I even wonder how I could write them so horribly... But I suppose that's normal. I'm not big on writing... That's why I almost never re-read my posts... :)