quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Brasil - Sempre chegaram os Saguins!

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Começam a ouvir-se com o nascer do sol. Leves como uma pena, franzinos e cinzentos como ratos famintos. Atraídos pelo barulho da zona dos pequenos almoços, depressa chegam com malabarismos amestrados. Saltam de árvore em árvore, movidos pela fome e pela secura esbugalhada. Pequenos no tamanho, exaltados nos movimentos bruscos e dessincronizados, fazem lembrar crianças hiperactivas que ora se aproximam a pedir uma esmola de pão, ora fogem a sete pés quando nos aproximamos sem qualquer intenção. Têm olhos hipertiróidicos, bocas pequenas e dentes serrilhados. Na cabeça, os penachos brancos, por cima das orelhas, dão-lhes um ar apalhaçado que nos rende em tímida perplexidade. Ágeis como um raio, correm excitados pelas traves do tecto, empoleirando-se, ora pela cauda, ora pelas garras das patas traseiras, pedindo bagos de uva e outras frutas da época. Oportunistas, entre o pequeno furto e a oferta, desdobram-se em malabarismos intermutáveis, passando, rapidamente, para mãos não comprometidas, o saque orgulhoso que lhes rendeu mais uma refeição gratuita. 
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Estranhei, no primeiro dia, estes pequenos acrobatas não terem aparecido. A espécie encontra-se ameaçada e muito embora o governo federal tenha tomado medidas de protecção, o seu habitat natural tem vindo a ser progressivamente dizimado pela febre da construção clandestina e pelo deficiente planeamento urbano da região. Mal gerida pelo homem, a mata atlântica, na orla costeira, tem vindo a ser engolida pela construção desenfreada de casas de veraneio e por um turismo personalizado que não deixa, contudo, de se instalar em território alheio. O choque, inevitável, gera situações como as que me foram relatadas. 
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No ano anterior, uma campanha de desratização levada a cabo por todo o distrito, atingiu a população de saguins de  forma alarmante, tendo-se verificado uma taxa elevada de mortalidade que quase levou à extinção na região. 
Foi com alegria que vi este pequeno grupo aventurar-se até tão perto de nós,  atrevendo-se a reclamar algumas migalhas, deixando um sinal de esperança com as suas quatro pequenas crias.
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A uns escassos 150m da costa, o resort é mais um dos que se inserem no limiar do habitat dos saguins. Com as devidas cautelas, procura compatibilizar o sentimento proteccionista com os requisitos de desenvolvimento turístico do Estado, evitando o confronto e a invasão para lá das construções já edificadas e retirando partido das visitas matinais que são um dos atractivos da região. 
O “resort” insere-se num jardim densamente arborizado, com vegetação típica da mata atlântica. O acesso à orla costeira, é feito por um caminho privativo, que parte das traseiras do resort, e segue arriba abaixo, serpenteando o pequeno morro, por uma estreita vereda que desagua numa praia minúscula, rochosa, mas belissimamente deserta.

CRV© Praia de Tibau do Sul

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