CRV© Praia de Pipa |
Contam os habitantes que há 25 anos Pipa era uma vila de pescadores de costas voltadas para o progresso. Depois, nos finais dos anos 70, as ondas revoltas e quentes trouxeram os primeiros surfistas. Alguns vinham só por uma temporada. Outros, fixaram-se. Com eles cresceu uma comunidade singular, longe de preconceitos e de formatos sociais, com conotações hippies e uma forma anárquica de encarar o mundo e a vida. Fazendo apologias ao amor e à paz, trouxeram os charros, parques de caravanas e roullotes degradadas, transformaram as casas dos pescadores em comunidades habitacionais auto-sustentáveis mas, principalmente, trouxeram a alegria e um dinamismo rejuvenescido a uma população envelhecida e fechada. Os trapos, as tendas, as rastas e as pranchas de surf enceradas, passaram a fazer parte do quotidiano da vila, transformando os hábitos e as mentalidades do povo, acreditando que Deus se havia lembrado de uma gente esquecida, recebendo os de fora como uma dádiva pacata. Com o tempo, as comunidades anárquicas cresceram e Pipa passou de destino hippy, pouco conhecido, a local de veraneantes de temporada. Abraçaram-se os novos visitantes, melhoraram-se as infraestruturas, proporcionando alojamento adequado, criou-se o Parque Natural das Dunas e a Reserva Ecológica, apurou-se a gastronomia do nordeste, mimou-se quem chegava e assegurou-se que regressassem. Na década de 90, Pipa era já um destino conhecido, com uma cadência própria e um movimento diário bipolar, não obedecendo aos gostos dos madrugadores fazendo, por isso mesmo, as delícias de quem gosta de aproveitar a madrugada.
CRV© Pipa - Rua Principal |
O movimento na vila começa tarde, sempre depois do meio-dia. Até lá, o comércio e a maior parte dos recantos gastronómicos encontram-se encerrados. A praia é a alternativa saudável. Com um areal pouco extenso, a praia de Pipa centra-se na gastronomia e nos petiscos de ocasião. Os vendedores passeiam-se sob um calor tórrido, apregoando discretamente os doces da região ou as ostras frescas com limão. Ao longo da praia, as tasquinhas servem sopas de caranguejo e agulhas fritas, cervejas frescas em barricas com gelo e lagostinhas apetitosas.
Na maré baixa, formam-se inúmeras piscinas naturais encalhando cardumes de peixes coloridos. Cobras riscadas, peixes balão e agulhas laranjas e azuis fluorescentes passeiam-se à nossa frente, ansiosos com os fotógrafos e com as crianças que mergulham para os agarrar. Para sul, o areal estende-se por 10Km. Aos destemidos, a caminhada inicia-se para lá do pontão, rumo às praias desertas, onde o vento sopra forte, a areia se levanta e as ondas se agigantam, sendo os únicos pontos de referência, os fatos e as pranchas coloridas dos surfistas.
CRV© Pipa |
Na vila, gosto particularmente de um lugar tranquilo. Da rua principal, desvio à esquerda e entro num pequeno beco que passa por baixo de uma fiada de casas. Cheio de plantas e janelas em volta, o caminho desagua num pequeno restaurante em palanque sob a praia. A comida é divinal. A vista é soberba. Com as pequenas embarcações dos pescadores a ondularem num mar em sossego, aproveito para por as minhas notas em dia enquanto aguardo pelo famoso petisco da casa. Depois, é só desfrutar do calor, da vista e da tranquilidade de uma tarde apetecivelmente ensolarada, até que chegue mais um repousante pôr-do-sol.
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